Origem do Cooperativismo:

A ação cooperativista pode ser vislumbrada nas mais diversas experiências comunitárias, ocorridas em tempo e espaços distintos, ao longo da história da humanidade. Sob a égide do comunitarismo, onde a propriedade dos meios de produção é coletiva, podem ser vistas como modalidades não convencionais de cooperativismo a república jesuíta dos Guaranis, no Paraguai, os sistemas do capulli e de altpetlalli, dos aztecas; os ejidos, mexicanos; os hayllus, dos incas; as zadrugas, na Sérvia e na Bósnia; o mir, na Rússia; os kibutzin, em Israel; a experiência comunal do beato José Lourenço, afilhado do Padre Cícero, na fazenda Caldeirão, em Juazeiro, ou, ainda, de Antônio Conselheiro, em Canudos.

Não obstante, de modo formal, situa-se a origem do cooperativismo na Inglaterra, em 1844, no Toad Lane (Beco do Sapo), na pequena cidade de Rochdale, pelas mãos de 28 tecelões, que criaram uma pequena cooperativa de consumo. Com uma proposta exequível e portando-se de modo crítico às experiências mal sucedidas dos precursores do cooperativismo – intitulados de “socialistas utópicos” – (John Bellers, Fourier, Robert Owen, Louis Blanc, William King, Phillipe Buchez) e guiados pelo ideal de que ” a justiça e a associação devem superar a injustiça e o individualismo da sociedade capitalista”, os pioneiros de Rochdale basearam-se nos seguintes princípios:

Formação de um capital social para emancipação dos trabalhadores, viabilizado pela poupança resultante da compra comum de alimentos;

Construção ou aquisição de casas para os cooperados;

Criação de estabelecimentos industriais e agrícolas voltados à produção de bens indispensáveis à classe trabalhadora, de modo direto e a preços módicos, assegurando, concomitantemente, trabalho aos desempregados ou mal-remunerados;

Educação e campanha contra o alcoolismo;

Cooperação integral, com a criação gradativa de núcleos de comunidades piloto de produção e distribuição, que seriam multiplicados através da propaganda e do exemplo, visando a fundação de novas cooperativas.

O modelo cooperativista de Rochdale foi surpreendente e a disseminação do seu ideal foi imediata. Na França, em 1848, operários criaram cooperativas de produção e na Alemanha e Itália surgiram as primeiras cooperativas de crédito.

No final do primeiro ano de atividades, a cooperativa de Rochdale aumentou de 28 para 180 libras o seu capital integralizado. Em 1855, já possuía 1.400 associados. O progresso demonstrado pela experiência foi responsável pela rápida expansão do cooperativismo de consumo: em 1881, já existiam mil cooperativas deste tipo, contando com, aproximadamente, 550 mil cooperados.

Hoje, o cooperativismo no mundo cresce a passos largos, desempenhando o seu desígnio de atenuar as contradições do capitalismo internacional. Nos E.U.A, 60% da população participam de algum tipo de cooperativa, que reúnem mais de 150 milhões de pessoas; no Canadá, 45% da população (12 milhões de pessoas) ; na Alemanha, 20% da população (20 milhões de pessoas) , sendo que 80% dos agricultores e 75% dos comerciantes; na França, 20% da população (10,6 milhões ).

O Cooperativismo no Brasil:

A primeira forma de organização baseada no comunitarismo e voltada a compor uma sociedade cooperativista em bases integrais deu-se, no Brasil, por volta de 1600, com a fundação das primeiras reduções jesuíticas. Calcado na solidariedade humana, onde o trabalho coletivo visava a supremacia do bem-estar da coletividade sobre o individualismo, esse modo de organização social foi desenvolvido no país por mais de 150 anos.

Entretanto, a primeira cooperativa em moldes rochdaleanos, foi criada em 1847, sob a liderança do médico francês Jean Maurice Faivre, à frente de um grupo de colonos europeus, inspirados nos ideais humanistas de Charles Fourier, dando vez à fundação da Colônia Tereza Cristina, no Paraná. Esta organização amalgamou os princípios do incipiente cooperativismo brasileiro, servindo de referencial aos novos empreendimentos coletivos.

No setor agropecuário, Minas Gerais desponta como berço da organização cooperativista, quando o governador João Pinheiro estabeleceu o seu programa agrícola, priorizando a constituição de cooperativas, como meio de se reduzir a intermediação nas transações comerciais, concentradas, à época, em mãos de estrangeiros.

A contribuição dos colonos europeus – especialmente alemães e italianos – ao desenvolvimento do cooperativismo brasileiro em seus primórdios é insofismável. Foi no Sul do país, onde se concentrou esse segmento social, que o cooperativismo ganhou maior impulso.

No segmento consumo, a primeira iniciativa foi a Cooperativa de Consumo dos Empregados da Cia. Paulista de Estrada de Ferro, em Campinas (SP).

A gênese do segmento crédito, por sua vez, deu-se em 1902, no Rio Grande do Sul, sob a inspiração do padre jesuíta Theodor Amstadt, que baseado no modelo alemão de Friedrich Wilhelm Raiffeisen (1818-1888), implantou as “caixas de crédito cooperativo”.

E, assim, os diversos segmentos cooperativos desenvolveram-se no país e, hoje, desempenham importante papel na economia brasileira. O segmento agropecuário e de crédito reúnem quase 2 milhões de associados, reunidos em torno de 2,3 mil cooperativas, que geram aproximadamente 115 mil postos de trabalho.

O Cooperativismo agrícola brasileiro é tão importante, que é responsável pela movimentação de recursos da ordem de R$ 17 bilhões na composição do PIB agropecuário nacional.

O que é Cooperativa:

Cooperativa é uma associação autônoma de pessoas que se unem, voluntariamente, para satisfazer aspirações e necessidades econômicas, sociais e culturais comuns, por meio de uma empresa de propriedade coletiva e democraticamente gerida.

Tipos de Cooperativas:

Em linhas gerais, as cooperativas se enquadram nos seguintes segmentos:

Segmento Agropecuário: Os primeiros modelos foram criados no Brasil, em Minas Gerais, a partir de 1907. Os colonos europeus influenciaram decisivamente a opção por esse tipo de organização social, principalmente no Sul do país. É o segmento mais forte do cooperativismo brasileiro, responsável pela organização da produção agropecuária, possibilitando uma inserção eficiente nos mercados. Atuando ao longo das cadeias produtivas, possibilita a compra em comum de insumos (adubos, agroquímicos, máquinas agrícolas) e a venda da produção dos cooperados. Presta serviços de assistência técnica, armazenamento, industrialização, comercialização, assistência social e educacional.

Segmento Consumo: A primeira cooperativa formal criada no mundo, em Rochdale, foi desse tipo. No Brasil, a experiência original deu-se em 1897, em Campinas, com a criação da Cooperativa dos Empregados da Cia. Paulista de Estrada de Ferro. Classificam-se em abertas ou fechadas, na medida em que admitem ou não como cooperados pessoas de segmentos sociais distintos ao que lhe concebeu. Repassar aos seus associados mercadorias em quantidade, qualidade e preços competitivos consiste no objetivo central e principal desafio deste tipo de cooperativa.

Segmento Crédito: Historicamente este tipo é um dos mais dinâmicos do cooperativismo brasileiro, não obstante tenha sido submetido à fragilização pelo comando político-econômico do país experimentado durante as décadas de 60 e 70. A primeira cooperativa brasileira foi criada no Rio Grande do Sul, sob inspiração do Pe. Theodor Amstadt, que se respaldou na cooperativas do tipo Raiffeisen, uma espécie de caixa de auxílio mútuo. Atualmente, existem dois sub-tipos de cooperativas de crédito: (a) as urbanas, também chamadas de crédito mútuo, que segue o modelo Dejardins, do Canadá. São fechadas, só beneficiando distinto grupo social, o que a diferencia do tipo Luzzatti, da Itália; (b) de crédito rural, que só admitem a associação de cooperados de determinada cooperativa agropecuária ou região produtora. As cooperativas de crédito são acompanhadas e fiscalizadas pelo Banco Central do Brasil, autoridade oficial que as disciplinam em nome do Conselho Monetário Nacional. No Brasil, são impostas limitações de ordem legal à atuação desse tipo de cooperativa, a despeito da resolução nº 2.193, de 31.08.95, que faculta a constituição de bancos cooperativos. Assim, impede-se a participação das cooperativas de crédito do tipo Luzzatti e a participação de capitais de terceiros.

Segmento Educacional: A primeira experiência surgiu em 1987, em Itumbiara-GO, como consequência do achatamento do poder aquisitivo da classe média, reflexo de seguidos planos de estabilização macroeconômica mal sucedidos. Logo, através da associação cooperativa, os pais encontraram um caminho para superar a dependência às escolas particulares e oferecerem aos seus filhos ensino de qualidade a preço justo. Enquadram-se, ainda nesse tipo, aquelas cooperativas formadas por estudantes de escolas de ensino agrícola, que contribuem no processo pedagógico, possibilitando o aprendizado prático e a experiência de gestão cooperativa. Recentemente, o Governo Brasileiro tem apoiado estas experiências, através do Ministério da Educação e Cultura.

Segmento Especial: Enquadram-se neste tipo as cooperativas constituídas por deficientes físicos.

Segmento Habitacional: Este tipo foi criado em 1964, com a Lei que instituiu o extinto Banco Nacional de Habitação, visando coordenar a ação dos órgãos públicos e orientar a iniciativa privada, de modo a estimular a construção de habitações de interesse social e financiando a aquisição da casa própria, especialmente para as classes pobre e média. Atualmente, existem pseudo-cooperativas intituladas de “cooperativas” habitacionais, que são na verdade consórcios privados que tentam burlar a legislação, não obstante existam autênticas cooperativas calcadas na auto-gestão e com menor dependência ao aparelho de Estado.

Segmento Mineral: Criado pela OCB em 1993, destacando as cooperativas de extração mineral.

Segmento Produção: Enquadram-se nesse tipo aquelas cooperativas em que os meios de produção são de propriedade coletiva e os cooperados formam o seu quadro diretivo, técnico e funcional.

Segmento Serviço: As cooperativas de serviço objetivam prestar coletivamente um determinado serviço ao quadro social São exemplos clássicos as cooperativas de eletrificação e telefonia rural.

Segmento Trabalho: A primeira iniciativa registrada no Brasil, deu-se em 1938, com a Cooperativa de Trabalho dos Carregadores de Bagagens do Porto de Santos. Este tipo de cooperativismo é constituído por profissionais de uma área de interesse comum, que buscam se apropriar de maior parcela da renda resultante do seu trabalho e superar o desemprego. São exemplos deste tipo de organização, as cooperativas de taxistas, engenheiros, professores etc.

Segmento Saúde: São cooperativas formadas por profissionais da área de saúde: médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, dentistas, que à semelhança dos outros profissionais organizados em torno das cooperativas de trabalho, buscam superar o desemprego e portarem-se como patrões de si próprios, oferecendo serviço de qualidade, com custos acessíveis aos seus clientes.

Para o Cooperativismo Brasileiro:

Cooperativa é uma organização de, pelo menos, vinte pessoas físicas unidas pela cooperação e ajuda mútua, gerida de forma democrática e participativa, com objetivos econômicos e sociais comuns, cujos aspectos legais e doutrinários são distintos de outras sociedades. Fundamenta-se na economia solidária e se propõe a obter um desempenho econômico eficiente, através da qualidade e da confiabilidade dos serviços que presta aos próprios associados e aos usuários.

Valores do Cooperativismo:

As cooperativas baseiam-se em valores de ajuda mútua e responsabilidade, democracia, igualdade, eqüidade e solidariedade. Na tradição dos seus fundadores. os membros das cooperativas acreditam nos valores éticos da honestidade, transparência, responsabilidade social e preocupação pelo seu semelhante.